Caso Clínico numa abordagem Osteopática

A nossa osteopata Vanessa Faria Lopes apresenta um caso clínico tendo em conta uma abordagem Osteopática.

Informações Iniciais
Diogo tem 13 anos e desde os 3 anos tem asma com crises frequentes de dificuldade em respirar. Tem o nariz constantemente a pingar e há uns meses surgiram borbulhas vermelhas e assanhadas por todo o rosto. O Diogo tem uma estatura baixa para a idade e desde bebé tem baixo peso, a Mãe refere que nunca comeu bem e que é muito esquisito com a comida. Ao entrarem no consultório reparei nas olheiras profundas, na expressão zangada e na sua postura encolhida, especialmente dos ombros que quase tocavam nas orelhas. A mãe trouxe-o à consulta sendo as principais queixas: dificuldade a respirar, dores frequentes nas costas, sono muito agitado (por respirar pela boca) e há poucos meses começou a ranger os dentes. O Diogo também tem dificuldade em se concentrar nas aulas e explica, que lhe é difícil estar atento porque quando sentado à secretária tem dores nas costas e pescoço, também não gosta de praticar desporto porque fica logo com falta de ar.

O inicio da vida do Diogo
O Diogo nasceu às 39 semanas, foi um parto difícil e prolongado porque não estava bem posicionado para nascer e foi necessário usar fórceps para o tirar. Quando nasceu, vinha com a cara muito “amassada”. Mamou até aos 2 meses e ao introduzir o suplemento ficou obstipado, com muitas cólicas e um eczema na pele. Passado algum tempo foi diagnosticado com intolerância ao leite de vaca. O eczema e a obstipação melhoraram com a eliminação de produtos de vaca da sua alimentação. Sempre foi um bebé muito chorão, para além da asma teve várias infecções durante a infância, especialmente otites e amigdalites, o que fez com que tivesse de faltar muitas vezes as escola.

Observação Osteopática

  • Alteração das curvaturas da coluna
  • Tensão, restrição e pouca elasticidade geral dos tecidos nas estruturas da face, mandíbula, pescoço, tórax e diafragma
  • Restrição e assimetria da mobilidade cervical, coluna dorsal, membros superiores e arcos costais
  • Pouca expressão de movimentos respiratórios
  • Apresenta uma mordida aberta (quando os dentes de cima não encaixam bem com os de baixo).
  • Crânio com ligeira alteração da sua forma fisiológica

Diagnóstico Osteopático

Os sistemas disfuncionais do Diogo:

– Sistema musculoesquelético, muito devido às dificuldades do parto, às compressões no crânio, coluna e costelas deixaram restrições na suas capacidades de se adaptarem ao crescimento e meio ambiente, criando uma dificuldade ou incapacidade em serem unidades funcionais.

– Sistema de drenagem, irrigação e imunitária
A sinusite persistente pode ter tido origem da compressão da face à nascença. A compressão mecânica leva à diminuição da mobilidade das estruturas e fica comprometida a capacidade de drenagem dos seios nasais, por sua vez diminuindo a capacidade da respiração nasal e contribuindo para infeções e diminuição de aporte de oxigénio.

– Sistema hormonal
A adolescência surge com um aumento de hormonas circulantes e ativas no corpo, é também um fator de stress adicional devido à maior carga física e química para o corpo, especialmente para o Diogo que já tinha algumas dificuldades e fragilidades.

– Alimentação inadaptada
Alergias e uma alimentação pouco adaptada para o Diogo contribui para uma estatura e crescimento abaixo da média e contribui de forma muito significativa para pouca energia e vitalidade, deixando o sistema imunitário mais sensível.

– Sistema Nervoso
As restrições, dores e tensões mecânicas do corpo do Diogo, que se manifestaram muito cedo, tendem a criar um desequilíbrio do sistema nervoso autónomo e contribuem para um sistema de “ estado de alerta” permanente, com influência na regulação das funções normalmente simples como o sono, digestão, respiração (capacidade de receber oxigénio), mobilidade e imunidade.

Abordagem terapêutica
O tratamento foi iniciado com os tecidos moles, ajudando-os a recuperar a elasticidade e eliminando contraturas. Assim que os tecidos ficaram mais funcionais, comecei a libertar as estruturas do crânio, face, vértebras e costelas, e ao libertar-se as restrições consegue-se uma melhoria da mobilidade e simetria de movimentos. Depois foi necessário equilibrar o sistema nervoso autónomo e promover maior drenagem e fluidez das mucosas e secreções, libertando e melhorando a função linfática e o sistema imunitário.

Os resultados
Devido à sensibilidade e ao tempo que os sistemas se encontravam em disfunção, foi necessário ter atenção para não “sobrecarregar” o corpo do Diogo com muitas correções mecânicas na mesma consulta, pois apesar de visar o conforto, se a abordagem não for progressiva pode resultar em mais stress, fadiga e dor. Após 2 consultas o Diogo já conseguia dormir mais horas, já não acordava tão cansado, já não rangia os dentes (bruxismo), já conseguia respirar pelo nariz e as olheiras tinham muito menos expressão. Após um mês da primeira consulta o Diogo sentia-se mais ágil, sentia o corpo mais solto e leve, não se queixava de dores nas costas e pescoço, e tinha melhorado o nível de atenção nas aulas. Referi o Diogo para uma consulta com uma nutricionista, onde foi definido um plano alimentar a fim de melhorar a sua alimentação e conseguir um aumento de vitalidade e energia. Ao equilibrar o sistema nervoso autónomo do Diogo o seu sistema hormonal acalmou, verificando-se significativas melhorias ao nível da pele e humor. Após 9 Semanas a capacidade e facilidade de respirar era muito evidente, tanto que já conseguia fazer as aulas de educação física sem grandes dificuldades. A frequência e intensidade das crises de asma diminuíram muito. O Diogo continua a ser acompanhado de 2 em 2 meses, pois devido ao constante crescimento ainda podem surgir tensões e restrições musculoesqueléticas e a má oclusão (mordida aberta) ainda requer trabalho e correção. Agora quando o Diogo entra no consultório tem um sorriso confiante e feliz. Este caso é um exemplo de como a osteopatia aborda o corpo como um todo, e sinto-me realizada ao conseguir melhorar a vida e futuro dos meus pacientes.

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